terça-feira, 8 de julho de 2008

Manhã de sábado


As horas transcorriam numa velocidade de locomotiva, o sol voltara a sua janela e ela nem tinha piscado os olhos. Havia lido Kafka e também Mircea Eliade sobreYoga, assistido a um programa para jovens casais que vão ter filhos, uma comédia romântica barata mas que qualquer casal se regozijaria em ver, ainda mais em fase de amor latente. Para ela não, não a fez dormir, não a fez rir. Parece que só sorriu um pouco quando a personagem feminina entrava em crise porque estava grávida e queria comprar um sexy vestido vermelho da vitrine. Esconderijos femininos!!!!!
Bom talvez fosse fome, talvez uma vontade incontrolável de comer alguém. Ou uma banana. Foi o que fez levantou-se foi até a cozinha, onde havia uma única e já quase velha, ou madura demais, pequena banana prata. Descascou-a com cautela e enquanto olhava pela janela a luz do sol de uma manhã clara de sábado, observou a beleza de um casal que na sua fantasia teria ultrapassado aquela noite um sobre o outro. E que a essa hora com certeza já estavam saciados.
Após a banana sua fome continuava, abriu a geladeira e nada mais lhe apetecia é, para ela, o melhor era sempre ser ela mesma, o prato principal. Não se incomodava muito com as entradas e sobremesas, mas o acompanhamento de um bom vinho, Pinot Noir e Syrah eram sempre muito bem vindos. Mas era dia. E já fazia muito tempo desde seu último banquete. Não vinha sendo servida em nenhum cardápio. Ela já debochava dela mesma. Parecia até que não fazia mais questão. Tinha ganho de presente um pequeno cigarrillo que fumava parcimoniosamente as vezes em que não conseguia dormir, mesmo sabendo que o incremento a manteria muito mais acordada do que antes o fumava sempre... só ou mesmo na companhia de estranhos amigos conhecidos. Pequenas tragadas esporádicas a satisfaziam. Talvez porque ajudasse a matar a fome ou a dor ou a memória, de estar sendo. Olhava inquieta e nostálgica para a pequena sala, ainda mal decorada, inacabada como ela mesma, e relembrava seus últimos dias onde havia gargalhado e feito asneiras. Ser a criança dela era bom, recompensante. Ela não tinha sido criança por muito tempo e agora sempre que possível se permitia sê-lo o que causava uma imensa e eufórica sensação de bem estar.

Um comentário:

Lago disse...

Nossa Dinha que manhã interessante, diversidade de emoções e uma razão pulsante e intensa !!!!!
ADOREI.
bjs
Marcelle