quinta-feira, 17 de julho de 2008

A enforcada

Pendurada de cabeça para baixo, suspensa, enforcada sem nenhuma corda no pescoço. Presa pelo peito, pelos fios de cabelo. Como numa armadilha agarrada pelos pés. Ela não sabia como descer, gritava as vezes um grito raivoso e ninguém escutava estava sozinha. O lugar era bonito e até interessante não fosse a situação de imobilidade, ver o mundo de cabeça pra baixo, pra ela que sempre tinha a maioria das coisas no lugar podia ser até divertido. Mas ela não estava achando nenhuma graça. A comida não descia, pelo contrário voltava. A garganta sempre seca e o sangue já fervido em sua cabeça. Ainda bem que era inverno e o sol apesar de brilhante não era tão intenso. A pele queimava muito lentamente dava pra suportar, o pior mesmo eram as mãos. Ela sempre sentira muito frio nas mãos e não conseguia mantê-las mais dentro do bolso da calça, a força da gravidade as puxavam pra baixo, assim como todo o resto do seu corpo. Várias noites já haviam se passado alguns viajantes passavam por ali mas nenhum deles conseguia desatar os nós que a prendiam, tentavam lhe dar algo pra comer , pra beber mas tais iniciativas eram em vão. Estranho era que ela não adoecia, não morria, estava viva, forte talvez um pouco tonta, talvez tivesse perdido parte da lucidez mas isso lhe permitia sonhar. E como sonhava!! A única coisa que conseguia ingerir sem repulsa era a fumaça dos cigarros. Sempre que algum viajante passava, ela lhes pedia para que acendessem um e esse era o tempo em que eles permaneciam ao seu lado segurando delicadamente o cigarro até o final para que ela não se queimasse. Era tudo que podiam fazer. Isso lhe preocupava, pois nenhum dos viajantes carregava cigarros e os dela já estavam quase no fim. O que faria quando eles acabassem?

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